Pesquisas que buscam esclarecer o fenômeno da genialidade levam psicólogos, médicos e historiadores a conclusões curiosas. No começo do século XX, cientistas tinham poucas dúvidas de que certos males psíquicos davam asas à imaginação. “Quando um intelecto superior se une a um temperamento psicopático, criam-se as melhores condições para o surgimento daquele tipo de genialidade efetiva que entra para os livros de história”, afirmou o filósofo e psicólogo americano William James (1842-1910). Pessoas assim perseguiriam obsessivamente suas ideias e seus pensamentos – para seu próprio bem ou mal – e isso as distinguiria de todas as outras.
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Uma questão curiosa é a de que os mais célebres gênios criativos da história eram doentes mentais, entre artistas, filósofos e escritores. Hoje, a conexão entre genialidade e loucura já não é vista como mero acaso. Pesquisas mostram que esses dois extremos da mente estão realmente ligados e os cientistas estão começando a entender o porquê. Segundo o site Jornal Ciência, um grupo de especialistas debateu o assunto Genialidade e Loucura em um evento realizado em Nova Iorque, como parte do 5º Festival Anual Mundial de Ciência. Mostrou-se que os resultados de 20 ou 30 estudos científicos afirmam a noção do “gênio atormentado”.
Das muitas variedades de psicose, a criatividade parece estar mais fortemente ligada a transtornos de humor, especialmente o Transtorno Bipolar, que é a dramática oscilação de humor. Um estudo testou, por exemplo, a inteligência de 700 mil suecos de 16 anos de idade. Após uma década, buscou-se saber quais deles haviam desenvolvido alguma doença mental. Descobriram que pessoas que se destacavam pela inteligência aos 16 anos, eram quatro vezes mais propensas a desenvolver o Transtorno Bipolar.
E qual é a ligação da doença com a criatividade?
Segundo neurobiólogos da Universidade da Califórnia, as pessoas com esse problema tendem a ser criativas quando estão saindo de uma depressão profunda. Quando o humor do paciente bipolar melhora, seus ciclos de atividade cerebral também se desenvolvem. A atividade diminui na parte inferior do cérebro, conhecida como lobo frontal, e cresce numa parte superior. Existe um nexo nessa dinâmica que tem a ver com bipolaridade e criatividade.
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Com relação à maneira como os padrões cerebrais se transformam em pensamento consciente, Elyn Saks, professor de Direito da Saúde Mental da Universidade da Califórnia do Sul, explicou que as pessoas com psicose não filtram os estímulos como as pessoas ditas normais. Ao mesmo tempo, são capazes de entender e conectar as ideias contraditórias, ligando as associações soltas do cérebro, ato que o cérebro da maioria não veria lógica e por isso não enviaria para a consciência. E se a invasão do absurdo no pensamento consciente pode ser esmagador e perturbador, pode também promover a criatividade. Ele ainda conclui dizendo: “Acho que a criatividade é apenas uma parte de algo que é essencialmente ruim”.