Expatriação: entrevista exclusiva com Andrea Sebben

Em uma época que se fala bastante sobre assuntos como apagão de talentos e crise internacional, a expatriação de brasileiros continua sendo uma alternativa vantajosa e muito usada por multinacionais. Andrea Sebben, gestora da empresa que leva seu nome, é referência na área de Treinamento Intercultural e parceira da MSARH. O principal objetivo de sua companhia é desenvolver pessoas de modo que possam se relacionar com excelência em diferentes culturas à luz do que há de novo em Ciências Interculturais.

Mestre em Psicologia Social, membro da IACCP (International Association for Cross-Cultural Psychology) e autora de diversos livros sobre expatriação e psicologia intercultural, ela concedeu entrevista exclusiva ao Blog da MSA. Confira a seguir.

MSARH: Com a recente crise econômica, que provocou demissões, especialmente nos Estados Unidos e em países da Europa, qual o impacto no movimento de expatriação de brasileiros? Ainda há espaço significativo para a carreira no exterior?

Andrea Sebben: De fato a marca Brasil expandiu muito lá fora e hoje estamos tendo um movimento migratório contrário. Vir ao Brasil  tornou-se  um must que em alguns anos atrás era simplesmente impensável. Até o final de 2012, os vistos emitidos pelo Ministério das Relações Exteriores chegou a 70 mil, contra 40 mil em 2009, por exemplo. Mesmo assim, como são vários os motivos para uma expatriação, o movimento de cá para lá continua, sem dúvida, pois o mercado segue extremamente aquecido em muitos países nas mais diferentes áreas, como por exemplo o Canadá, com o boom do gás e petróleo, e a Austrália com a mineração, ambos países necessitados de mais de obra estrangeira.

MSARH: O que determina a decisão de uma empresa entre investir na capacitação de um profissional local e adquirir um profissional estrangeiro?

Andrea Sebben: Muitas são as razoes pelas quais isso acontece: pode ser transferência de conhecimento, treinamento e desenvolvimento de pessoas para uma cultura corporativa global, desenvolvimento de um novo projeto, gerenciamento de uma transição, desenvolvimento de carreira ou a solução de problemas ou crises específicas ou imediatas. Sempre há uma razão por trás dessa transferência porque elas são caras e devem justificar seus custos.

MSARH: O “jeitinho brasileiro”, em relação a prazos, por exemplo, dificulta o relacionamento entre os profissionais do Brasil e os do país de destino?

Andrea Sebben: O jeitinho pode ser visto pelo viés positivo e negativo, como já diria o próprio Roberto da Matta, nosso grande antropólogo envolvido nessa questão. Sob o ponto de vista positivo, ou seja, a flexibilidade, a criatividade, a inovação e originalidade das idéias ajuda muito numa relação intercultural. O objetivo é tirar de cada cultura o seu melhor e isso nosso jeitinho é um trunfo em nossas mãos. Agora, se você está falando da nossa dificuldade em seguir regras com a subseqüente iniciativa de burlá-las facilmente, de não estabelecer metas específicas e portanto não mensurá-las ou entregá-las em prazos determinados, bem, isso sim dificulta o relacionamento. Para ter sucesso nas equipes multiculturais a confiança mútua é fundamental para diminuir o distanciamento emocional entre elas. Portanto, como vou ter proximidade com alguém que não confio?

MSARH: Existe uma forma de identificar se o profissional tem o perfil necessário para se sair bem em um processo de expatriação? Como é feita esta identificação?

Andrea Sebben: A literatura mundial aponta duas tendências que já sabemos na prática: que a competência técnica (e não comportamental) é o critério usado para a escolha do perfil do expatriado e que os métodos utilizados – se utilizados – são transplantados do RH doméstico para a realidade do RH internacional. Ou seja, duas práticas que ignoram completamente a competência (i) em jogo – a competência intercultural. Pois este pequeno desvio do olhar produz  uma miopia grave, deixando de lado a capacidade de adaptar-se a realidades complexas, que é a migração como um todo.

MSARH: Como é feito o acompanhamento de brasileiros expatriados e quanto tempo ele dura?

Andrea Sebben: Nosso trabalho de Treinamento Intercultural é baseado em duas ciências: a Psicologia Intercultural e a Educação Intercultural. Sendo assim, temos teorias e métodos muito consistentes de capacitação e apoio aos brasileiros no exterior e aos estrangeiros no Brasil. Uma de nossas ferramentas é o Apoio 24 horas para eles e suas famílias, pois entendemos que a adaptação é um processo com data para iniciar e sem data para terminar. Estamos na escuta todo o tempo pois nosso ponto de honra é não apenas prepará-los mas mantê-los satisfeitos e produtivos em seus locais de assignement.

MSARH: Existe alguma cultura a qual os brasileiros tenham mais dificuldade de se adaptar?

Andrea Sebben: A cultura oriental tem valores muito distantes dos nossos e, claro, vice-versa. No entanto, temos algo em comum que só piora as coisas: o etnocentrismo. Japão, Brasil e China, por exemplo, são países altamente etnocêntricos – ou seja – tem em si mesmo a referência para tudo. O diferente, o estranho são sempre os outros. “O mundo inteiro deveria conhecer e rezar pela nossa cartilha”, essa é a mentalidade etnocêntrica e motivo pelo qual brasileiros se ofendem quando o resto do mundo não sabe de nós. Mas a pergunta é, e nós? O que sabemos sobre Guine Cronaki, Eitreia ou Brukina Faso?

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