A baixa produtividade nas empresas brasileiras está mais relacionada a fatores culturais do que a falhas na educação formal, de acordo com matéria em uma das maiores publicações de negócios do país. A falta de confiança endêmica dentro e fora das organizações cria uma distância muito grande entre quem está no topo planejando tarefas e quem as executa no dia a dia. Essa realidade afeta a nossa produtividade e nos derruba nos rankings globais de inovação, uma vez que a desconfiança faz com que gestores não dividam metas e não acreditem que as pessoas sejam capazes de dar conta do recado. O resultado é uma gestão baseada em controles excessivos que acabam inibindo a criação de algo realmente novo.
Essa é uma das constatações de um amplo estudo chamado “Confiança e Produtividade no Brasil”, realizado por pesquisadores da FGV e da Fundação Dom Cabral. Ao longo de 16 anos, eles estudaram 40 empresas de grande e médio portes buscando isolar os fatores que explicam o baixo desempenho da economia e das organizações brasileiras, tendo como referência os principais rankings globais (Banco Mundial, OCDE, OMPI e Fórum Econômico Mundial).
Foram aplicados 1.620 questionários que geraram a maior base de dados do mundo sobre confiança em empresas privadas, segundo os pesquisadores. Desde a década de 80 estudiosos procuram entender a relação entre cultura e desempenho econômico, mas pela primeira vez nesse estudo eles conseguiram isolar os aspectos culturais que influenciam a capacidade das organizações de aumentar a sua produtividade. Isso rendeu aos autores uma indicação ao prêmio “Emerald Best International Symposium” no congresso anual da “Academy Of Management”, um dos eventos mais importantes na área de administração do mundo.
Os autores identificaram o que chamam de “passivos organizacionais” da cultura brasileira que consomem tempo, energia e que resultam em perdas de competitividade e produtividade. Entre eles, está a distância entre o poder e a base, a baixa confiança que faz com que exista um excesso de regras e controles que engessam a cooperação interna, a pouca disciplina pessoal e o foco exagerado no curto prazo.
O modelo de gestão nas organizações brasileiras é extremamente reativo, porque existe um compromisso muito baixo com a execução do planejamento estratégico. Com esses comportamentos, caímos em uma espiral viciosa de perda de produtividade que se reforça com o tempo e que não é mensurada, o que gera retrabalho ou a incapacidade de manter uma manutenção preventiva.
A boa notícia, segundo os autores, é que como a questão da baixa produtividade no Brasil está relacionada a comportamento e a modelos de gestão, trata-se de um quadro que pode ser revertido. É possível neutralizar o impacto da nossa herança cultural nas nossas organizações. Para que isso aconteça, será preciso exercitar a liderança compartilhada e manter a disciplina organizacional. Embora estudos mostrem que a confiança é maior em sociedades mais homogêneas e igualitárias, o que não é o caso do Brasil, que está entre os dez países mais desiguais do mundo, é possível avançar na construção de uma maior cooperação interna nas empresas. As companhias que conseguem isso dão um um salto enorme de efetividade.
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