Em artigo da Revista Exame, afirma-se que o workaholic é visto como um profissional moralmente manco, que penaliza os demais pela sua própria falta de planejamento. Você concorda?
Um talentoso jovem profissional brasileiro, recém chegado aos Estados Unidos, cheio de gás, ralou sem trégua dias seguidos no novo trabalho. Queria impressionar a direção: todos os dias ele entrou mais cedo e saiu mais tarde, com almoço de 20 minutos, fim de semana nem pensar. Estava crente de que abafava, mas levou um tremendo susto. Chamado pela gerência para uma conversa séria, ouviu a advertência: ou diminuía aquele ritmo alucinado ou seria demitido. A sua atuação frenética não interessava, provocava estresse nele próprio e em todos à volta. Pior: dedicar tantas horas ao trabalho para fazer algo que os demais colegas resolviam dentro do expediente, era sintoma de baixa produtividade ou incompetência.
Foi-se a moda em que o adepto compulsivo do trabalho, também conhecido como workaholic, era valorizado pelo mercado. Hoje banido à vala comum dos viciados, seus integrantes perfilam ao lado dos alcoólatras, drogados e de uma nova classe em ascensão, os fumantes, na categoria “indesejável social”. Pessoas que fazem do trabalho a razão de ser na vida não são propriamente uma novidade. E, contabilizados ganhos e perdas, pesaram bem mais as segundas. Assim, de herói, o workaholic virou vilão.
Mas é preciso cuidado nessa rotulagem. Nem sempre é fácil distinguir um trabalhador legitimamente dedicado de um workaholic. Um médico que se entrega de corpo e alma durante 70 horas por semana à saúde de seus pacientes pode ser menos viciado em trabalho que um contador que se dedica 40 horas aos livros de caixa. Nesse caso, o que define o viciado é o tipo de vida que leva fora do trabalho. Assim, o médico laborioso ao extremo pode ter uma equilibrada vida social e familiar, enquanto o contador pode ser do tipo que não quer nem voltar para casa. O workaholic sobe uma escada que o conduz à compulsão. O que o diferencia dos demais trabalhadores é a capacidade de se apaixonar pelo processo em si, o que inclui um desempenho interminável e neurótico em seu fazer. É tão absurdo quanto o turista que deixa de prestar atenção ao roteiro da viagem para se ater apenas ao movimento do veículo que o transporta.
Fonte: Exame