Em um levantamento com 1.348 líderes brasileiros, americanos, europeus e asiáticos, os executivos do Brasil destacam-se como os mais otimistas sobre as perspectivas do mercado de trabalho no alto escalão. O estudo foi feito pela Association of Executive Search (Aesc), por meio do site Bluesteps. Na pesquisa, 80% dos líderes brasileiros disseram que estão buscando ativamente novas oportunidades profissionais. Para Peter Felix, presidente da Aesc, a disputa por talentos é crescente no Brasil, o que justifica tanto entusiasmo.
A seguir, os principais trechos de entrevista com Peter Felix, concedida ao Valor e publicada no site Blue Steps, sobre este assunto:
Valor: Não existe um certo exagero no otimismo dos executivos brasileiros em relação à mudança para um emprego melhor?
Peter Felix: O otimismo com relação a novas oportunidades de emprego se harmoniza com o aquecimento da economia e com os números fantásticos de criação de empregos publicados pelo governo brasileiro. O Brasil divulgou, por exemplo, uma alta recorde de 2,5 milhões de novas vagas criadas em 2010. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos a economia não está se recuperando como o previsto, o desemprego continua alto e os dados de criação de empregos estão muito atrás dos registrados no Brasil. Todos esses fatores contribuem para as perspectivas dos executivos e os brasileiros têm o direito de estar otimistas.
Valor: O senhor diz que as multinacionais estão ajudando a aquecer a contratação de executivos no Brasil. Os alto salários pagos atualmente no país não estão dificultando a atração desses talentos locais?
Felix: Acho que as multinacionais sempre terão um forte poder de atração para os executivos dos mercados locais. Isso porque criam a oportunidade de eles atuarem em múltiplos mercados em maior escala e oferecem uma via de acesso rápido às posições de liderança mundial. No entanto, há muitos casos nos quais as multinacionais que contratam no Brasil ficam chocadas com o custo do capital humano no país. Elas esperam pagar o mesmo que em outros mercados desenvolvidos, mas descobrem que têm de desembolsar ainda mais para atrair os melhores. As multinacionais bem-sucedidas se adaptam ao mercado local ao oferecer remuneração possivelmente superior a de outros países. Mas isso não acontece com todas, uma vez que algumas organizações insistem em pagar salários iguais no mundo inteiro. Não oferecer o valor de mercado pode levar à incapacidade de atrair e reter os maiores talentos no Brasil.
Valor: O que faz o executivo brasileiro trocar de emprego?
Felix: A remuneração é um forte motivo para 100% dos brasileiros consultados. Segundo 46% deles, o aumento do salário é importante para se levar em conta uma mudança de carreira. Para os outros 56%, é extremamente importante.
Valor: Ainda existe espaço para a criação de cargos de comando na cúpula das empresas no Brasil?
Felix: Recrutadores buscam cargos de alto nível, ou seja, de diretoria ou superiores, e estão registrando uma crescente demanda por contratações. Isso demonstra que existe espaço no primeiro escalão, mas talvez isso não corresponda à percepção de todos os executivos brasileiros. Embora o Brasil possa estar tendo um bom desempenho, alguns executivos tendem a ser sensíveis a problemas nos mercados mundiais, o que pode levar a uma falta de confiança na possibilidade de ascender profissionalmente dentro da empresa.